Neste sentido, pode ser
definido como estilo art�stico individual e temporal, que ilustra um per�odo hist�rico
�nico, pois dono de uma concep��o da vida e m�todo liter�rio pr�prios. O uso da
palavra 'romantismo' remonta ao s�c. XVII, �poca em que, na Fran�a e na Inglaterra,
designava certo tipo de cria��o po�tica ligado � tradi��o medieval dos 'romances',
narrativas de hero�smo, aventuras e amor, em verso ou prosa, cuja composi��o, tema e
estrutura se opunham aos padr�es e regras da po�tica cl�ssica. Assim, o 'rom�ntico' e
'romanesco' s�o termos comuns no s�c. XVII, devendo-se a Warton (1781) o primeiro
emprego da oposi��o 'cl�ssico-rom�ntico', embora sem o realce que alcan�aria depois.
Da palavra francesa roman (romans ou romant), as l�nguas modernas derivaram o sentido
corrente no s�c. XVIII, sentido esse que veio a dominar, definindo a literatura produzida
� imagem dos 'romances' medievais, de tipos e atmosfera cheios de fantasia. Quanto ao
substantivo 'Romantismo', seu uso � mais recente, variando nos diversos pa�ses europeus
durante as duas primeiras d�cadas do s�c. XIX (na Fran�a, 1822 - 24). Em Portugal, a
palavra foi introduzida por Almeida Garret em sua obra Cam�es (1825); no Brasil, s�
aparece no pref�cio de Gon�alves de Magalh�es � trag�dia Ant�nio Jos� (1839), em
oposi��o a 'cl�ssico'.
O movimento rom�ntico decorreu de
uma transforma��o est�tica desenvolvida em oposi��o � tradi��o neocl�ssica
setecentista, inspirada nos modelos medievais. A mudan�a, consciente e de �mbito
europeu, cristalizou-se em uma escola unificada, com caracter�sticas gerais e comuns �s
v�rias na��es ocidentais e a todas as artes. Conjugando elementos positivos e negativos
no plano das id�ias, sentimentos e formas art�sticas, mas reafirmando uma s�
concep��o liter�ria e art�stica, uma �nica atitude em face da natureza, um mesmo
estilo po�tico, o Romantismo tomou conta do esp�rito ocidental, dominou todas as artes.
Teve grande import�ncia nessa transforma��o a fase chamada Pr�-Romantismo, em que se
deu a luta contra o Neoclassicismo e as regras e g�neros regulares. Essa rea��o
demonstrava um estado de inconformismo em rela��o ao absolutismo, intelectualismo e
convencionalismo cl�ssicos, �s formas e temas esgotados. A imagina��o e o sentimento,
a emo��o e a sensibilidade substituem lentamente a raz�o, centro de tudo. O tema da
natureza e suas implica��es atraem cada vez mais o pensamento. A longa dura��o da fase
pr�-rom�ntica, paralela � despedida da neocl�ssica, foi marcada por alguns fatos
importantes, como o deslocamento da fonte inspiradora para a Inglaterra e a Alemanha; o
advento do 'ossianismo', i.e., o predom�nio da poesia popular e natural, iniciado na
Inglaterra com a memor�vel fraude de Macpherson (1760 - 63); a redescoberta ou
revela��o de Sheakspeare; o Sturm und Drang ('tormenta e �mpeto') alem�o (d�cada de
1770); a ressurrei��o dos contos medievais, das lendas germ�nicas e da mitologia
n�rdica. Acrescente-se a eclos�o do Irracionalismo, concep��o filos�fica e est�tica
de Herder, Goethe, irm�os Schlegel, Klopstock; a influ�ncia de Rousseau, o 'pai do
Romantismo', com a sua valoriza��o do sentimento, do cora��o, da bondade natural; as
id�ias de Chateaubriand, em Le G�nie du Christianisme (1802), e de Mme de Sta�l, em De
la Litt�rature (1800) e De L'Allemagne (1810), com a doutrina liter�ria e est�tica do
novo movimento.
A rigor, o
Romantismo teve in�cio entre 1797 e 1810, com o aparecimento da Escola Alem�, dos
'poetas do lago' ingleses, de Walter Scott, Chateaubriand e Mme de Sta�l. Em 1798, passou
� Inglaterra. Nos primeiros anos do s�c. XIX invade a Fran�a, e os pa�ses
escandinavos, em 1816 aparece na It�lia, um pouco mais tarde na Espanha, em 1822 na
Pol�nia. J� em 1825 todos os pa�ses est�o impregnados pelo novo esp�rito, que,
por�m, mostrar� esgotamento por volta da metade do s�culo. Sob o impacto da influ�ncia
convergente das correntes inglesa e alem�, o Racionalismo cl�ssico, de cunho franc�s,
cedeu ao longo do s�c. XVIII. Conquistada a Fran�a, o Romantismo difunde-se por toda a
Europa e Am�rica, gra�as sobretudo ao �mpeto liberal e revolucion�rio que adquiriu em
contato com a Revolu��o Francesa (1789).
Para
compreender o Romantismo como movimento liter�rio, � imperativo caracteriz�-lo como um
conjunto de tra�os, renunciando � id�ia de uma defini��o ou f�rmula. O esp�rito
rom�ntico revela-se num complexo de qualidades, como: (1) individualismo e subjetivismo,
atitude pessoal e �ntima que condiciona a vis�o do mundo � personalidade do artista;
da� adquirir fundamental import�ncia a preocupa��o com o mundo interior, com o estado
d'alma, com o primado da emo��o, da imagina��o, da paix�o, da liberdade pessoal; (2)
ilogismo, segundo o qual o rom�ntico oscila entre a alegria e a melancolia, o entusiasmo
e a depress�o; (3) sentido do mist�rio; (4) escapismo ou desejo de fuga � realidade
para um mundo idealizado pela imagina��o, no passado ou no futuro; (5) reformismo ou
busca de um mundo novo atrav�s da revolu��o e dos movimentos democr�ticos; (6) sonho
ou temperamento sonhador; (7) f�, em lugar da raz�o; (8) culto da natureza, fonte de
inspira��o do homem simples e puro; (9) historicismo e exotismo - que levam o artista ao
culto do passado, da tradi��o nacional, de �pocas antigas, envoltas em mist�rio, como
a Idade M�dia - valorizados ao lado de paisagens ex�ticas; (10) culto do pitoresco, das
florestas, das terras selvagens, dos lugares estranhos cheios de melancolia e cor local,
evocadores da saudade e da express�o l�rica e sentimental. Al�m disso, h� no
Romantismo aus�ncia de regras e formas prescritas: a norma suprema � a da inspira��o
individual, que dita a maneira pr�pria de elocu��o, determinado o predom�nio do
conte�do sobre a forma. A individualidade do autor � que modela o estilo, por isso
caracterizado pela espontaneidade e entusiasmo das emo��es e resultante da vontade do
artista. Quanto aos g�neros, o Romantismo cultivou principalmente a poesia l�rica, o
drama, o romance (social e de costumes, psicol�gico e sentimental, ex�tico e de
aventuras, hist�rico, de tema nacional ou medieval). Com rela��o � l�ngua, ao estilo,
� t�cnica da versifica��o, a tend�ncia dominante foi para a liberta��o dos antigos
c�nones. O rom�ntico reagia sobretudo contra a tirania da gram�tica e do estilo nobre a
pomposo, defendendo o uso de uma linguagem livre, simples, pouco enf�tica, quase
coloquial.
O Romantismo
foi preparado por uma primeira gera��o, a que se deve o movimento conhecido por
Pr�-Romantismo e que se desenvolveu sobretudo na Inglaterra e na Alemanha durante o s�c.
XVIII. Formam esse grupo: Macpherson, Young, Gray, Collins, Goldsmith, Chatterton, Cowper,
Burns, Klopstock, Herder, Goethe, Schiller, Bernardin de Saint-Pierre, Foscolo, etc. Em
seguida, vem a primeira gera��o rom�ntica, composta de artistas nascidos por volta de
1770, como Blake, Worsworth, Coleridge, Southey, Walter Scott, August Wilhelm e Friedrich
von Schlegel, Tieck, Novalis, Chamisso, Mme de Sta�l, Chateaubriand, Lamb, De Quincey,
Irving, Fichte, De Maistre, Courier, Hazlitt, Eichendorff, Uhland, Kleist, Grillparzer,
Bello, Senacour, Hoffman etc. Neles, o esp�rito rom�ntico n�o est� ainda inteiramente
realizado, podendo-se observar certos res�duos cl�ssicos em muitas de suas
composi��es. A segunda gera��o rom�ntica, mais numerosa, j� mostra plena
consci�ncia do movimento novo; seus representantes, nascidos entre fins do s�c. XVIII e
in�cios do XIX, vivem-no revolucionariamente. Dela fazem parte: Byron, Atterbom,
Brenttano, Lamartine, Shelley, Keats, Bigny, Leopardi, Mickiewicx, Pouchkine, Lenau, Hugo,
Manzoni, Espronceda, Garrett, Dumas (pai), Carlyle, Emerson, Macaulay, Michelet,
Villemain, Nisard, George Sand, Cooper, Anderson, Stendhal, M�rim�e, Balzac, Sue, Ranke,
Heine, etc. A terceira gera��o compreende os nascidos nas duas primeiras d�cadas do
s�c. XIX: Musset, Gautier, Nerval, Avellaneda, Herculano, Poe, Belinski.